
É um dos actores mais requisitados do momento e António-Pedro Vasconcelos não perdeu a oportunidade de o teu num filme seu. Marco D’Almeida é o par romântico de Soraia Chaves em “A Bela e o Paparazzo” e mais uma vez provou que podem contar com ele nos melhores projectos de ficção nacionais.
Quem é a tua personagem em “A Bela e o Paparazzo”?
Chama-se João, é um paparazzo que assina por Gabriela como disfarce. Depois ainda vai arranjar outra máscara para não desvendar que é um paparazzo à Mariana, personagem da Soraia. Eles cruzam-se e começam uma relação e ele não lhe pode contar que é o paparazzo que anda atrás dela.
É um papel um bocadinho esquizofrénico…
São todos. No processo de procura um actor passa por, não digo uma esquizofrenia enquanto doença enquanto algo tão perturbador, mas passa por isso. Eu próprio, às vezes, enquanto estou no processo de descoberta tenho as minhas angústias e passo por esse lado esquizofrénico, de insatisfação.
Fizeste um papel que as figuras públicas odeiam. Como figura pública como foi passar para o outro lado?
Mete-se tudo no mesmo saco e diz-se que não se gosta de paparazzis. Encontrei uma curiosidade dentro da pesquisa e mesmo dentro dos fotógrafos há aqueles que dizem: “Pá, eu não sou um paparazzi”. Encontrei quem me fizesse questão de frisar que isso, um bocado para dizer que isso é o que está mais abaixo na profissão. Eu não vejo as coisas assim. No caso do filme, os personagens fazem o que querem… ele quer ser fotógrafo, ela quer ser actriz, o que acontece é que não estão no patamar que eles desejavam.
Ficaste a compreender melhor os paparazzi…
Sim. Tudo depende da interpretação que a fotografia possa ter. Já cabe à revista decidir aquilo que se quer. Embora também haja aqui um lado de uma certa adrenalina, além de dinheiro, que é de apanhar o momento. O filme começa precisamente assim… Ele sabe perfeitamente o que as pessoas querem ver. Compreendi-os, percebi qual é o mecanismo e o lado um bocado perverso também dentro do próprio star system.
Como foi trabalhar com a Soraia Chaves?
Foi excelente. Ela merece estar onde está. O António-Pedro já tinha em mente a Soraia para fazer o papel, anda à procura do actor para fazer o par romântico. Fui fazer uma cena com a Soraia e o que eu acho que aconteceu, senão não me tinha escolhido, foi uma química. Demo-nos muito bem, entendemos as personagens, as cenas e não tivemos qualquer constrangimento. Da minha parte, não pensei: “Ai a Soraia, estou com a Soraia”. É uma actriz, somo colegas e acima de tudo foi muito engraçado porque com o avançar do tempo de rodagem a química foi transparecendo para o ecrã.
“Quando vi o “ET” acreditava que se tivesse um boneco daqueles e o pusesse na minha bicicleta podia voar”
Fazes cinema, teatro, televisão. Sentes-te melhor em que formato?
Eu não vou mentir dizendo que são complementares. O que eu gosto mais é de trabalhar, ter tempo para trabalhar num bom texto, ter uma boa equipa, porque quando se trabalha em equipa é bom. A parte criativa é muito mais produtiva do que trabalhar em maus ambientes.
Como é que surgiu o gosto pela representação?
Deve ter sido de ver muitos filmes. Eu acreditava que aquilo era tudo verdade até começar a fazê-los. Pensava que os actores viviam aquelas aventuras e eu gostava muito de viver aventuras. O primeiro filme que vi foi o “ET”, portanto eu acreditava que se tivesse um boneco daqueles e o pusesse na minha bicicleta podia voar. Veio um bocado desse imaginário. Acima de tudo não queria chegar aos 40 anos e dizer: “Não tentei”. Experimentei e está a dar certo até agora.
Frequentaste a Escola Profissional de Teatro de Cascais, estudaste no estrangeiro. Isso não acontece muito hoje, investe-se mais numa “cara bonita”…
Eu acho que há espaço para todos. Não tens que ser penalizado por teres uma cara bonita, não deves ser penalizado por causa disso. Não há menos talento ou menos aptidões para ser actor ou apresentador. Haverá sempre uma selecção natural, não podemos avaliar tudo o que está a acontecer já. Temos que avaliar daqui a uns anos, quem é que ficou das caras bonitas. Quem só tiver uma cara bonita, o próprio tempo encarrega-se de arranjar outra cara bonita a seguir.
“Sou um bocado avesso a regras impostas pelos outros”
Não foste para a universidade. Gostava de ter ido?
Não.
Porquê?
Não tenho nada a ver com o espírito académico. Já fiz um papel de um universitário de Coimbra e não me identifiquei.
Nem com as festas universitárias?
Para festas estou sempre pronto. Para isso convidem-me. Agora para o resto não. O próprio espírito universitário tem uma carga só por si pesada, muito institucional e com regras, com montes de regras. E eu sou um bocado avesso a regras impostas pelos outros. Eu gosto de ter as minhas porque é um bocado estranho alguém querer reger a minha vida. Como passei um uma situação idêntica, quando estudei… quer-se dizer, não posso dizer que estudei num colégio… mas tinha atrás da porta do quarto umas 20 regras, como “não podes fazer isto, não podes fazer aquilo”.
Mas acabaste por estudar…
Foi completamente diferente. Quando se está num liceu normal, faz-se aqueles teatrinhos, mas cada um dos colegas quer seguir coisas diferentes. Ao entrar numa escola de arte, encontrei pessoas que também gostavam de arte e identifiquei-me com isso. E o próprio ensino artístico é mais livre, lida-se com coisas que libertam, e descobrimos mais sobre nós.
Que projectos tens para 2010?
Continuo com a novela [Meu Amor, na TVI], vou finalizar uma pequena participação num filme do Raul Ruiz, “Mistérios de Lisboa” e vou fazer no S. Luiz um espectáculo que se chama “Cartas de Mozart” que sou eu a ler cartas que Mozart escreveu durante a vida, com a Orquestra Sinfónica de Lisboa.
Por Joana Miranda
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