
Manuel Alegre diz adeus. O histórico socialista despede-se esta quinta-feira do Parlamento ao fim de 34 anos, uma relação de altos e baixos onde foi evidente um certo afastamento do PS relativamente a algumas matérias.
O parlamentar com mais anos em exercício de funções deixou a sua marca em algumas decisões mas sempre vi um dos fundadores do PS de maneira diferente. Alegre nunca foi um político no verdadeiro sentido da palavra, nunca conseguiu esconder as suas paixões e as suas teimosias. Na minha opinião nunca foi um bom político nem podia ser.
Com atitudes que podemos classificar de estranhas, Manuel Alegre entrou em diversas contradições: dizia que não se revia no actual PS mas depois afirmava que se fosse preciso até colava cartazes, transmitiu a ideia que queria criar um partido novo para de seguida preparar o terreno para uma eventual candidatura presidencial com o apoio do PS, em que ficamos? Confuso…
Não há que ter medo de criticar Alegre. Nunca encontrou o seu espaço na política mas sempre carregou a bandeira do “sonho socialista”, isso condicionou-o, transformou-o numa pessoa de contra-sensos.
Quando traímos a nossa natureza acabamos por nos trair a nós próprios…
Manuel Alegre é um poeta, um romântico, um patriota, um homem da cultura e das letras. Nada mais que isso e já é muito...
Última Página
Vou deixar este livro. Adeus.
Aqui morei nas ruas infinitas.
Adeus meu bairro página branca
onde morri onde nasci algumas vezes.
Adeus palavras comboios
adeus navio. De ti povo
não me despeço. Vou contigo.
Adeus meu bairro versos ventos.
Não voltarei a Nambuangongo
onde tu meu amor não viste nada. Adeus
camaradas dos campos de batalha.
Parto sem ti Pedro Soldado.
Tu Rapariga do País de Abril
tu vens comigo. Não te esqueças
da primavera. Vamos soltar
a primavera no País de Abril.
Livro: meu suor meu sangue
aqui te deixo no cimo da pátria
Meto a viola debaixo do braço
e viro a página. Adeus.
Manuel Alegre
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