Numa altura em que o país vive a ressaca das eleições (aparentemente tudo ficará igual) e toda a gente fala nisso optei por divagar sobre outro assunto.
Vou falar sobre a nostalgia que tenho da minha vida de estudante universitário e do sentimento de irreverência aliado a essa vida já passada.
O verão acabou e voltou o rebuliço inerente à entrada dos jovens na faculdade. Praxes, jantaradas, festas e noitadas, conhecer os colegas de turma, durante estas semanas iniciais tudo se vive com uma grande intensidade e queremos estar em todo o lado. Confesso que o meu primeiro ano foi assim, intenso…
Alguns jovens que fazem a transição do Secundário para o Ensino Superior ficam assustados. Deixam para trás a família, amigos, a namorada, “seguranças” que custam deixar para trás… No meu caso foi diferente, eu estudei toda uma vida para aquele momento, sonhava com ele por isso quando o consegui não me foi difícil deixar um mundo que conhecia para trás. Eu desejava ser independente, livre, fiquei eufórico com a minha “vitória”, com a minha pseudo-emancipação (sim porque dependia do dinheiro dos pais).
Sair à noite, jantares “regados” com os novos colegas de turma, horários completamente trocados, enfim os exageros normais que se cometem nesta fase e que mais tarde pagamos por eles.
Estudava para as frequências/exames quase na véspera, bebia muito café, fumava e fazia directas atrás de directas para conseguir processar toda a matéria dada e torná-la dotada de sentido para mim. A verdade é que normalmente conseguia-o. Acabava as frequências com um sentimento de satisfação, pensava “desta vez superei-me, não há nada que me predisponha a fazer que não o consiga”, sentia-me insuperável, sentia-me grande… E de sorriso nos lábios ia para casa descansar e desligar o cérebro por uns momentos.
Eu sei que muitos estudantes universitários (principalmente no primeiro ano) continuam a ter este processo de estudo que digamos não é lá muito saudável, mas a verdade é que o fazem.
Tal como também sei que gostam da esplanada da faculdade. É um facto científico. As saudades que eu tenho das belas tardes passadas na esplanada da minha universidade, ali discutia-se, ali ria-se, ali descontraia-se…Ninguém julgava ninguém e cada um pensava pela sua cabeça, havia respeito e admiração, havia orgulho, um sentimento de que alguns que ali estavam poderiam ser amigos para a vida.
Tudo era mais simples…Não pensávamos tanto nas responsabilidades porque elas ainda estavam longe, os problemas da altura não ganhavam as dimensões que ganham agora, isso é um facto.
Se recuar até esses tempos consigo afirmar, com algum orgulho, que o que pensava querer ser na altura hoje ainda o quero ser. Nunca fui “assaltado” por dúvidas, mais ou menos existenciais, tinha era talvez pouca energia para construir qualquer coisa firme, queria divertir-me…
Muitas vezes no meu percurso académico fui sabotado por emoções fortes, devido a fortes convicções que tinha, não queria mudar de opinião porque eu tinha razão. Esse também foi o meu erro. Era excessivamente confiante, sonhador, arrogante até. Causou-me dissabores que felizmente soube resolvê-los, menos mal portanto.
Escrevo sobre o passado porque penso no futuro. Naquela altura sonhava com o futuro, hoje ainda sonho. Já não posso ser o mesmo mas sei o que quero ser e para onde quero ir, não estou nem nunca estive perdido.
Não tive um percurso académico exemplar mas tive o meu percurso e isso é importante.
Trajectos sem máculas não são certamente para mim nem para qualquer estudante universitário que esteja agora a iniciar essa etapa.
Eram sem dúvida bons tempos, quando penso neles dá-me vontade de rir. Oh tempo volta para trás!! Que chatice, ele não volta. Esqueci-me que o tempo é ditador…
Tenho pelo menos uma certeza: Olho para os meus tempos de estudante e sinto que foi uma das fases mais felizes da minha vida. Ali fui fiel a mim próprio, fiz um caminho que me parecia impossível.
Constrói o teu percurso, eu já só posso relembrar o meu.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
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