Cada vez fico mais perplexa com as barbaridades que se pensam neste país. Um especialista em Estudos Portugueses, de seu nome Carlos Reis, veio a público defender que a obra de José Saramago, “Memorial do Convento”, não deveria figurar no programa da disciplina de Português:
“Não sou defensor do Memorial do Convento como obra de leitura integral neste nível de ensino [12º ano]. Parece-me uma obra de linguagem demasiado complexa.”
Ora, linguagem complexa. De facto, a escrita de José Saramago tem umas características muito particulares. As letras maiúsculas no meio do texto vindas sabe-se lá bem de onde, ou as vírgulas fora sítio (isto quando as há, claro) são aquelas que mais confusão fazem ao estimado leitor. E eu pergunto: E então? É caso para se ignorar o único português galardoado com um Nobel da Literatura? Se responder que sim, lamento dizer-lhe que é por estes pensamentos que o estado da Cultura neste país se arrasta pelas ruas da amargura. Se responder que não, os meus parabéns, alguém que valorize aquilo que é nacional.
Com esta conversa não estou de modo algum a defender, e muito menos a dizer que gosto da forma de escrever de Saramago. Apenas penso que é ridículo tentar tirar uma obra do autor do programa de Português por ter “uma linguagem complexa”. Eu também andei às voltas com os textos de Antero de Quental, não percebia nada daquilo, e não foi por isso que não tirei boas notas a Português. Simplesmente estudei para ultrapassar a complexidade dos poemas do senhor. Continuo a não apreciar os seus textos, mas não é por isso que penso que devessem ser tirados do programa.
E agora os meninos não podem estudar? O Ministério da Educação continuar a facilitar no ensino e eliminar as partes difíceis dos programas? É assim que os alunos vão aprender Português e a conhecer as obras dos autores lusos? Temos que ter em conta que os alunos que estudam o “Memorial do Convento” já não têm 10 anos, já devem ter uma maturidade e à vontade com a Língua Portuguesa para perceberem que Saramago tem uma escrita muito diferente e única. Aí é que está o desafio… E é por isso mesmo que continua a ser admirado e ganha prémios. Porque escritores de romances é o que há mais em Portugal. Agora que sejam reconhecidos lá fora é que não…
Mas esta já não é uma situação nova em Portugal… o que é nacional não nos chega, não presta e não merece sequer a nossa atenção… os estrangeiros continuarão a admirar aquilo que nós deixamos de lado!
terça-feira, 14 de julho de 2009
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